julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com coisas que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

Tenho histórias para contar?

Pensando aqui comigo se tenho alguma história curiosa para contar. Ah, eu devo ter algo como um causo divertido que posso colocar na mesa, juntamente com um pouco de ficção (se não não tem graça), só que eu nunca fui boa de sentar em uma roda e sair contando minhas histórias, meus causos por aí.

Não sei se é falta de jeito, ou vergonha mesmo. Sei que eu nunca fui a pessoa da roda que mais fala, que conta piadas, por exemplo, e que sempre tem algo para comunicar. Na verdade sempre torço pra que ninguém me pergunte nada porque eu sei que vou travar e nem vou conseguir falar sobre qualquer coisa, mesmo que fácil, que esteja passando pela minha cabeça naquele momento assustador (pois sim, acho momentos em que alguém me pergunta algo sobre mim, assustadores. Deve ser a introversão). 

Embora eu viva nesse mundo — digo, no meu mundo — sem absolutamente nada de interessante, eu me pergunto às vezes o motivo de não saber contar minhas próprias histórias. E acho que tenho uma teoria.

Bom, você bem sabe que tenho esse blog e que escrevo nele. Tento me abrir ao máximo, com aquele pensamento de que vou contar algo para mim mesma e mais ninguém vai ler, só que o cérebro trava um pouco e percebo que eu mesma tento me enganar. É, quero eu me enganar fazendo acreditar que nem vou falar nada demais, porém na tentativa de abrir a boca para falar um algo a mais meu subconsciente (aquela desculpa que se dá vez ou outra né) estala e descobre a farsa. Ele não me deixa dizer mais do que quer, e no fim das contas, na edição dos textos, tudo o que eu já tinha revelado se apaga ferozmente com um apertão na tecla. Pensei também que meu maior problema era a introspecção, que comentei em off anteriormente, mas acho que não é bem isso. É esse medo de querer ser descoberta. Da minha total inexistência, alguém irá ler sobre mim e saberá quem eu realmente sou. Essa é a coisa que me deixa mais nervosa quando eu penso em escrever e revelar algo sobre mim. 

Só que eu estou aqui para dar a cara a tapa. Fui eu mesma que escolhi me comunicar com o mundo e compartilhar meu mundo em um blog; depois em um canal do Youtube — sem contar nas outras redes sociais das quais falo muito sobre o que penso (leia-se Twitter); ou mostro alguma foto da minha casa, de onde passeio por aí (vide Instagram). E o mais engraçado nisso tudo é que por escolha minha eu me revelei e aqui estou contando sobre o que se passa comigo, porém ainda com receio de ser “descoberta”. Acho que é uma grande ironia, mas a vida é feita disso tudo, não é?

Ora, veja só, comecei esse blog com uma história. Fui lá e contei. Sem medo, sem receio do que poderia parecer estar falando da minha vida logo no início do que chamaria de lar virtual.
Então parar de contar causos por aqui foi realmente um grande equivoco, quando parei e percebi que era lida por muito mais gente do que achava que um dia encontrariam meu blog, me deu um certo pânico.

Arte da Maori Sakai

A minha vida não é assim interessante como às vezes eu tento fazer parecer que ela é. Não tem nada no meu dia a dia que seja diferente da sua vida ou de qualquer outra pessoa que esteja aqui lendo os meus textos, ou até de quem nem conhece esse espaço cheio de palavras. Mas é na insignificância do nosso ser que acabamos por ser nós mesmos, únicos e dignos de certa atenção. Ao mesmo tempo que não se obriga ninguém a se interessar pelo que você tem a dizer, você tem o direito de dizer, mesmo que seja para as paredes (talvez elas lhe deem a atenção merecida). Então por que me exponho assim, mesmo com o medinho de, talvez, ser conhecida? 

Porque se alguém, que seja uma pessoa que existe nesse mundo imenso, vier aqui e se identificar minimamente com o que sinto e tenho para dizer, meu trabalho já terá valido a pena. 

Não que eu procure isso sempre, não é necessariamente isso. Mas imagine você que estando a mercê de ser encontrada por uma pessoa a milhares de quilômetros de mim é algo bem possível, e esse alguém ler o que tenho pra dizer e se sentir, que seja um pouco melhor com sua própria vida — mesmo que eu nem fique sabendo disso, só de imaginar —, eu ficarei num contentamento que só pode ser explicado por meio de mais textos desse tipo aqui.

Eu sei que tenho minhas histórias significativas para contar. Contarei. Seja em forma de texto por aqui ou algum dia em forma de livro, não importa. Todos temos nossas histórias e alguém devia ouvi-las, pois na nossa insignificância, significamos algo para alguém, em algum lugar dessa imensidão, também.

J.

Comentários

  1. "mas é na insignificância do nosso ser que acabamos por ser nós mesmos, únicos e dignos de certa atenção" > é exatamente isso. no final, todo mundo vida sua rotina (com pequenas alegrias, tristezas e coisas chatas pra resolver). mas, apesar disso, acho que todo mundo tem alguma coisa boa pra compartilhar (seja em texto, foto, vídeo, ilustração... enfim). eu também vivia com medo de colocar o que eu penso na internet (e pras pessoas na vida real também) mas venho mudando isso aos poucos. vez ou outra é necessário dar a cara a tapa e colocar no mundo o que a gente tem de bom pra oferecer :)

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    1. Isso, Kah! A gente fica com receio, mas se é algo bom, se é 'nossa arte' por que não? É uma maneira da gente conseguir conversar e por pra fora até as angústias e coisas que a gente pensa pensa pensa e nem sempre tem outra maneira de extravasar.

      Muito obrigada pelo comentário ;)
      Beijins!

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