julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com coisas que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

O que é ser produtiva(o)?

via Unsplash 

Tenho tido muitos pensamentos (e até acontecimentos) que acabam por virar assunto aqui, mas ninguém está reclamando, rs. É que venho mais um dia com texto e estou até achando estranho o fato de estar escrevendo tanto. Claro que não é um problema. Inclusive, é ótimo estar escrevendo sempre, pois sou dessas que sempre tem algo para pôr no papel.

Pois bem, delongas a parte, queria dizer que o título pode parecer meio autoajuda ou estilo coach (deus me livre!), mas pode ficar tranquila que não é. Não estou aqui para escrever um motivacional sobre ser produtiva e que a gente tem que trabalhar e se organizar para ser o mais produtiva possível etc.

Não é isso. O que eu queria colocar na mesa são questões. Perguntas. Porque temos que ser produtivos o tempo inteiro? O que é produtividade? É trabalhar muito? Dar check nas suas tarefas, ou até fazer mais do que está nas suas tarefas? Só trabalhar no computador e ficar sentado por horas a fio? Quem inventou esse termo de “ser produtivo é um avanço” (o termo mesmo nem sei se existe, eu que estou representando a ideia com essa frase)?

Às vezes me sinto mal por não fazer nada o dia inteiro; procrastinar, dar um tempo das obrigações. Sei que tenho meus privilégios, que posso me dar esse luxo muito mais do que a maioria das pessoas, mas ainda assim, em alguns momentos, me sinto um ser inútil ao meu país. Daquelas que não sabe por quê raios não está fazendo/fez as coisas que tinha que fazer; só deixou para amanhã.

Esses dias tive essa epifania. Levantei tarde (como tenho feito há um tempo, infelizmente) e achei que aquele dia jamais pudesse ser um dia um pouco mais produtivo, em que eu faria algumas coisas que tinha para fazer.
obs: deixei de usar o bujo em Maio for reasons. Voltarei com ele, mas ainda não sei quando, provavelmente em Janeiro do ano que vem, porque prefiro calendários serem começados no início do ano. 
Mas para minha surpresa, até que consegui fazer várias coisas. O ideal seria levantar cedo, fazer as tarefas pela manhã, no máximo até o começo da tarde e ter o resto do dia para outras coisas que não são trabalhos e obrigações. Não é assim pois, como disse, acordo muito tarde... Porém consegui notar que se eu prestar atenção, todo dia algo é feito e não é um dia todo do perdido.

Aí te faço de novo a pergunta: o que é ser produtiva(o)? 
Acho que hoje a pergunta pode estar ligada ao fato de que muita gente se sente muito desmotivada, tanto pelas circunstâncias atuais, dos acontecimentos, como também por essa palavra — produtividade — estar sendo aplicada da maneira mais obrigacional, fazendo com que, justamente, as pessoas se cobrem ainda mais que elas têm que ser produtivas, acabando que, pela própria concepção, não estão sendo. Também tem o pensamento que coloquei lá acima, de que ser produtivo é trabalhar no computador; se não for ali não é produtividade (?).

Por conta disso imagino esse tanto de coach (lá vamos nós de novo…) que tem aparecido querendo dizer o que e como as pessoas têm que fazer as coisas, sendo que cada um tem um jeito próprio de se organizar e tal. Acho que isso é algo até bem prejudicial. 
Deve estar junto ao pensamento de quer ser produtiva(o) é estar sempre trabalhando e com isso sempre ganhando dinheiro, sendo o movimento do mundo capitalista. 

Talvez seja hora de pensar com mais cuidado e profundidade sobre isso. Não só sair por aí com aulas que dizem “você não precisa ser produtivo o tempo todo”, isso é uma verdade; mas também mostrar que muitas vezes, mesmo fazendo algo como escrever no bujo e passar um café, naquele dia você já fez algo; você levantou e fez alguma coisa, não é inutilidade. Entende?

Sei lá, posso estar viajando um bocado, só que depois de ler muitas coisas sobre e atreladas a isso (normalmente encontro esse assunto no Desancorando), o que eu posso tirar para mim — e passar aqui por meio dos meus textos confusos — é que, se por um momento, fizemos algo que foi benéfico para o dia, seja para você ou para os outros, uma produtividade houve.

Então se sentir inútil ou improdutivo é apenas ruim para sua cabeça e sua motivação. Não é necessário sentir-se assim. Temos que ser mais gentis com nós mesmos, pois é esse corpo, com mente e força, que carrega todo dia nossos fardos.

J.

Comentários

  1. ai esse post é simplesmente super necessário, amei muito

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  2. Eu me sinto improdutiva quando não consigo cumprir as minhas metas. Tipo mês passado: pintei uma parede do meu quarto e organizei os meus armários, mas só consegui ler três livros, e o mês parece que foi um desperdício...

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    1. Acho que sua ideia de produtividade tá ligada aos livros que lê, então. Porque você fez muita coisa no mês; pintar parede e arrumar os armários demanda tempo, então você se dedicou. Tenta não se cobrar tanto, Vanessa. Você fez/faz o bastante, e o importante é que você faz.
      ;)

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  3. Ser produtivo é construir os outros.
    Beijo no coração

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    1. Os outros se constroem sozinhos, nós AJUDAMOS se são pessoas queridas.
      Beijo de luz

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  4. Verdade, Juli... Tudo. E é engraçado porque ontem tive um dia extremamente produtivo, e hoje estou um bagaço, hahah. Faz parte. Importante é conhecer nossos limites e ter equilíbrio ♡

    Um abraço enorme pra ti!

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    1. Exato, Lari. Todo dia é um dia diferente. Em alguns faremos muito, em outros, menos, mas não deixa de ser um dia com coisas a fazer. Mas o equilíbrio é sempre a melhor saída mesmo ;)

      Abraço pra ti também!

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  5. Percebi que eu tenho picos. Tem dias que faço tudo o que preciso fazer, tem dias que mal consigo me mexer. A dor crônica piora tudo, claro, se eu não a tivesse sei que seria cheia de energia. Costumo estabelecer metas tímidas pro dia, tipo terminar a resenha de tal livro, ler umas 50 a 100 páginas antes de dormir. Nada que me consuma muito, pois eu sei que vou sofrer depois.

    Difícil é conviver com a culpa de se sentir improdutiva. Tento me convencer de que é pra cuidar da minha mente.

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    1. Pois é, ainda por cima tem que se lidar com alguma condição, tipo a sua dor. Então não dá pra se cobrar mesmo, capitã. Tem que pensar que você fez o que deu naquele dia, e se não fez por querer descansar, tá tudo bem também, porque a gente tem que tirar dias de folga pra nossa saúde.
      ;)

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  6. Estou lendo esse texto em um dia que levantei às 06h40 (trabalho em uma Rádio e às 07h preciso colocar um programa específico) e às 07h30 voltei pra cama, porque o corpo acordou cansado, com sono e sem energia. Levantei às 09h pra começar a fazer as coisas que planejei para hoje, mas estou com aquela sensação de "nossa, o dia não vai render. não vou ser produtiva". E sabe do engraçado? Não é nem 12h e eu já respondei vários whatasapp, fiz uma planilha no excel e fechei uma proposta com uma cliente.

    Acredito que a questão da produtividade, também está ligada ao fato de que achamos que temos que fazer muitas coisas no dia e estar sempre ocupada. Também acredito que os sabotadores adoram esses momentos de questionamentos, quando achamos que não estamos sendo produtivas, quando estamos (na nossa medida e no nosso ritmo).

    O que eu tenho feito, principalmente nessa quarentena, é ouvir mais o meu corpo e quando não estou a fim de fazer algo e sei que não afetar outra pessoa ou a entrega de um trabalho, eu largo tudo e vou ler um livro ou passar horas assistindo série. Depois eu volto para as tarefas "produtivas" e vou seguindo a vida.

    Um beijo
    Gabe Pinheiro
    gabepinheiro.com.br

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    1. "Acredito que a questão da produtividade, também está ligada ao fato de que achamos que temos que fazer muitas coisas no dia e estar sempre ocupada."
      Sim, Gabe. Bem isso!
      Exatamente, a gente tem que ouvir o próprio corpo e mente. Só nós mesmos sabemos nossos limites e o quanto fizemos.

      Obrigada pelo comentário ;)

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  7. oi, juli, tudo bem?

    tenho pensado bastante sobre produtividade, especialmente agora na pandemia. tem dias em que eu não faço absolutamente nada além de assistir a alguma série ou ler um livro, e tá tudo bem, sabe? tem aquele pesquisador, não lembro do nome dele, mas que falou sobre o ócio criativo. acredito demais nisso. também tem um cara que pesquisa filosofia da educação, o larrossa-bondía, que fala sobre como vivemos numa sociedade do conhecimento ao invés de uma da experiência. a gente tem que saber de tudo, ter opinião sobre tudo, produzir o tempo inteiro... mas a experiência, aquela que verdadeiramente acrescenta, requer tempo e espaço para se desenvolver. não é algo que "opa, vi isso agora e já sei de tudo, já fiz tudo, sou super produtivo pois tenho números de coisas feitas". até que ponto esse número realmente conta? é algo que tenho me questionado cada vez mais.

    enfim, reflexões haha

    bjo!

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    1. Oi Mia! Que bom te ver por aqui ^^

      Sim, esses questionamentos são importantes pra gente não cair na cilada de achar que só porquê um dia de relaxamento é um dia inútil. Além do mais, precisa-se de descanso, se não o corpo e a mente não aguentam.
      Acho que esses pensamentos sobre ócio criativo e absorver a experiência com tempo é muito válido, pois para cada um é um tempo, a gente absorve as coisas em tempos diferentes, é normal. O que não é normal é essa cobrança sobre produtividade que anda tendo por aí.

      Obrigada pelo comentário ;)

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