julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora que escreve & escritora que lê. escuto música, bebo café e sou adepta do slow living e slow content. Aqui temos praticamente 15 anos de história. arte: yelena bryksenkova

O tempo que nos é dado

acervo pessoal

Estou lendo Linha M da Patti Smith, que é um livro que ela escreveu pelos idos de 2012-2013. Na verdade, o livro surgiu de anotações que ela faz em seus cadernos. Ela escreve de tudo; e desenha também. Aí ela reuniu esses pensamentos e lembranças e escreveu esse livro que tem sido uma coisa impressionante pela conexão que estou tendo com ele.

Uma coisa que os pensamentos dela me fizeram refletir foi que reclamamos tanto do tempo, que não temos, que não vamos conseguir ler tudo o que queremos e tal, porém quando falamos isso estamos nos nossos 25-30 anos. É muito revelador perceber que Patti ainda tem uma vida ativa; lê muito, escreve muito, toma café e — na época do livro — ela tem 66 anos. Quer dizer que estarmos na casa dos 30 ainda tem muita coisa pra acontecer até chegarmos na idade dela por exemplo, e por que raios então a gente acha que não vai dar tempo de fazer tudo o que queremos, ler o que desejamos?

Para mim é o tal do imediatismo. As coisas tem que ser feitas antes do 30, se não já somos velhos. O que mais pega em tudo isso é que quando as pessoas falam sobre isso, ninguém dá ouvidos e continua se propagando que existe idade pra se fazer as coisas. Tem idade pra fazer faculdade, pra viajar, pra aprender algo novo, para trabalhar com o que se quer, para viver um novo amor. Tem que ser tudo no máximo até os 35, se não já era. O decreto de morte está na porta. A partir dos 36 não dá mais pra fazer nada, porque, poxa, não é idade pra isso, né?

O quão absurdo isso soa? Muito. Ando detestando essas perguntas/afirmações de por que fazer isso agora?, aquilo não seria legal nessa idade. Pode-se fazer as coisas agora, no auge dos 30-35 mesmo. E se tiver 40 e quiser fazer algo novo, faça. Não é essa sociedade cheia de discursinho lindo mas que acha que ser jovem é que é legal, que tem que barrar as coisas que queremos fazer, que seja aos 40 ou 50 anos. 

Quer ter um canal no Youtube? Tenha. Quer aprender a tocar um instrumento? Vá em frente. Não deixe que digam que ter um tanto de idade é impedimento para querer fazer as coisas que se sonha/tem vontade.

“Talvez ela chegue aos cem. Fiel a si mesma.”

Hoje a Patti Smith está com 73 anos. Ela ainda escreve, canta, desenha, fotografa e posta no Instagram. Deve tomar seus cafés e fazer as viagens quando quer. Perdeu o marido há 26 anos, ainda sente falta dele, mas ela faz as coisas que quer. Ela não se impede dos prazeres dela porque podem achar que ela é velha. Não está nem aí. E eu acho isso lindo.

Quero ler muito na minha vida ainda. Quero aprender a tocar ukulele. Quero voltar a desenhar e depois pintar com aquarela. Vou continuar escrevendo e fazendo vídeos (provavelmente, sim), não só pra provar que mesmo tendo passado dos 30 eu posso, mas porque é o que adoro fazer. São meus prazeres, são meus confortos. 

As frases podem ser muito clichês, mas a idade é só um número e o que a gente sente aqui dentro é o que conta são verdadeiras. 
Cada um tem seu tempo de realizar coisas e nunca vai ser tarde para aprender, para buscar sonhos que se vislumbram. Não perdemos esse direito ao passar dos anos. Penso que todos deveriam olhar para pessoas como a Patti e tirar esse exemplo, da pessoa incrível que ela é. 

edit: em Linha M Patti fala sobre muitas coisas e sobre nada. Narra tantos acontecimentos, tantos sentimentos e pensamentos que não fiz jus a ele aqui nesse texto. Quem sabe, mais para frente, eu escreva sobre ele.
J.

Comentários

  1. Claramente eu precisava ler isso! E preciso muito terminar de ler Linha M, socorro!

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    1. Que bom que te ajudou, Fabi. E leia Linha M, é espetacular!
      ;)

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