julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com coisas que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

O que o isolamento me ensinou

acervo pessoal

Eu tenho consumido muito conteúdo (lido posts e mais posts em blogs e vídeos) que comecei a me inspirar muito e aí que comecei a escrever mais (o que é ótimo) e coisas que ficam passando pela minha cabeça estão virando textos por aqui também.

Final de Março e iniciozinho de Abril comecei a pensar muito (até mais do que o normal, rs) em como tenho me sentindo nos últimos anos. Pensamento vai e pensamento vem, tive que entender que se eu não mudasse de atitude não sei se viveria muito mais tempo. 

Calma, não é nada trágico quanto possa parecer. Viver e não só sobreviver, quis dizer. Acho que se eu não tomasse uma atitude rápido, eu iria parar no fundo do poço em estado vegetativo.

Então comecei a revisitar meu passado e todos os passos que dei ou deixei de dar até aqui. Pensei tanto, mas tanto sobre tudo e decidi que tinha que dar uma continuidade na parte boa da minha vida.

Porque dei muita vazão ao desapontamento, ao desespero e a raiva. E isso começou a me levar para lugares ruins da minha mente onde eu acessei pensamentos péssimos sobre mim e sobre o mundo. Isso tudo estava me fazendo muito mal e consequentemente mal às pessoas que convivem comigo.

A maioria não está convivendo tanto (a não ser através da internet) pois estamos aqui confinados, eu, maridón e Fiona. E temos a nós mesmos e cuidar uns dos outros. O que não era pra ser algo difícil de fazer, pois é minha família e a amo mais que tudo. Porém com toda essa parafernália de pensamentos tóxicos fica difícil você se concentrar e pensar que as pessoas precisam de você. Já que é a família, cada um tem que fazer sua parte para que a casa esteja em harmonia.

Só que nos últimos anos tem sido bem mais cansativo.

Aprendi que sempre foi uma escolha minha me sentir bem ou mal, contudo não vou me culpar por estar me sentindo assim. Enxergo agora que eu queria ficar lá no fundo sem que me ajudassem a sair, porque queria sentir tudo aquilo. Masoquista, eu sei.

Mas é que às vezes a gente precisa sentir as coisas — sejam boas, sejam ruins — mais intensamente se quisermos entender os reais sentimentos que estão fazendo parte de nós naquele momento. Tem uma coisa aí de quase vê-los, não apenas senti-los. Para dar um perspectiva dolorida e real do que é estar vivendo o que se está vivendo. 

Deve ter ficado meio confuso, mas foi assim que achei de explicar.

Mas por que de tanto sentimento? Porque não sei viver de outro jeito que não sentindo as sensações que os acontecimentos, pessoa e coisas me passam. É um jeito de encarar o mundo de maneira sensível e lúcida. Cada um vive como quer, eu escolhi viver sentindo. Escolhi viver sentindo o bem, dessa vez.

Apesar de tudo de ruim que está acontecendo, não quero parar de procurar coisas boas no meu dia a dia. Não quero me sentir culpada por acordar melhor e até bem humorada, mesmo que a gente tenha tragédias nos jornais. Pois não quer dizer que fecho meus olhos, que não me importo, só que vou absorver isso de maneira diferente, que não me faça um grande mal tão diretamente. 

E se as pessoas acham que agir assim é egoísmo, eu sinto muito por elas não entenderem que temos que fazer o máximo para que as coisas fiquem melhor no nosso mundo individual, para que tenhamos força para agir em prol do coletivo.

Como ajudar o outro se não olhamos a nós mesmos como o outro? Entende?

Talvez esses pensamentos estejam muito auto ajuda, muito good vibes ou simplórios, mas não me importo se discordarem veemente de mim. É assim que é. Se você precisa sofrer, ficar mal para mostrar preocupação, você ainda não entendeu o propósito de cuidar dos outros com o mesmo carinho que se cuida de si mesmo.


É, tudo isso foi surgindo em cada pensamento por meio de muita reflexão, porém ainda preciso aprender muito mais, cada dia mais. Pois ter ideia na teoria não é a mesma coisa que praticá-la. Estou aqui colocando tudo em palavras, mas talvez isso tudo só vá ter um real significado, um propósito, quando essas palavras virarem ações que visam o próximo.

Penso que quando tudo isso passar, eu irei agir, finalmente. Colocar os pés na rua e ir em busca da prática de tentar fazer esse mundo um pouco melhor, não só para mim, mas principalmente para as as pessoas que precisam.

(E quem não precisa de cuidado, não é?)


Desejo que todos que leiam esse texto possam fazer o seu melhor para que o mundo possa se curar o mais rápido possível. 

Não acho que o Coronavírus tenha trazido algo de bom, entretanto podemos pegar a situação que nos foi imposta e, quem sabe, criar uma oportunidade de pensarmos e revermos conceitos, hábitos e vivências; assim a gente reflete para que quando tudo isso acabar, nós que tivemos sorte, possamos nos reerguer.

Lavem as mãos, cuidem e se cuidem. Fiquem bem, o melhor possível.
Este texto estava sendo escrito enquanto dura a quarentena. Aparentemente não ia ser postado, mas decidi que irei me arriscar mais e escrever meus pensamentos mais abertamente e sem medo. Então está publicado.
J. 

Comentários

  1. Tenho refletido bastante sobre muitas coisas. Acho que o isolamento tem impulsionado isso em muitas pessoas e tenho gostado bastante de ler posts como o seu. A sensação é que todos estão passando pelo mesmo e cada um, a sua maneira, tem buscado solução e resposta para os seus conflitos, questionamentos e sentimentos.
    Beijo enorme! ❤ | Quase Aurora

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    1. E espero que a maioria saia desse quarentena ouvindo mais, pensando mais e se educando mais né, Karina?
      A gente tá precisando de mais empatia no mundo ;)

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