julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora que escreve & escritora que lê. escuto música, bebo café e sou adepta do slow living e slow content. Aqui temos praticamente 15 anos de história. arte: yelena bryksenkova

Um dia após o outro

via Unsplash

Postei uma foto nesse Instagram (de livros) com o seguinte textinho:
Não é que eu esteja mal, mas ultimamente não tenho tido energia para muitas coisas. Tudo tem acontecido mais lentamente, contudo não vejo isso como problema. Penso que é um tempo que tinha que tirar para mim; pensar e absorver as coisas de maneira gradual, sem me afobar ou mergulhar em um mar revolto de informações. Sigo assim, calmamente; relaxando e apreciando cada caminhada, prestando atenção aos detalhes triviais do cotidiano. E pra mim é assim que tem funcionado. 🌿✨
Falo por mim, apenas, quando digo que tenho um tempo só meu. Tenho fases; tenho ciclos e isso não quer dizer que tudo tenha que começar em alguma época específica, mas o tempo é definido pelo que sinto aqui dentro de mim. E é tempo de ir com caminhadas a passos lentos. Isso não quer dizer que vou abandonar as coisas que faço como minhas leituras, os conteúdos que produzo (diga-se o blog, o canal, as redes, que uso para divulgar os dois...) etc. Simplesmente que vou fazer tudo no tempo que me é dado.

Parece que a urgência é algo que tem se acometido pela sociedade. Essa necessidade de tudo ser para ontem, que as coisas tem que ser feitas muito rápido para que seja consideradas "bons trabalhos", não tem funcionado para mim. Preciso pegar as atividades que executo e pensar com calma em como vou fazê-las, então aprecia-las como devem ser. Uma leitura feita em dois dias; assistir filmes quase todos os dias da semana; precisar estar sempre conectada nas redes sociais, tudo isso tem me deixado com muita ansiedade (embora os ataques tenham praticamente sumido) e dor de cabeça. Então me decidi por minha saúde e bem estar, elas vem em primeiro lugar. Portanto tudo está sendo feito um passo de cada vez, sem cobranças, sem infortúnios ou arrependimentos.

Me dei conta que era isso que precisava fazer quando me lembrei de uns anos atrás, que eu não era uma pessoa ansiosa — pelo menos não que eu tivesse notado... Percebi que havia perdido uma das características que mais as pessoas gostavam em mim, e que eu mesma apreciava tanto, ver a beleza nas pequenas coisas. Olhar tudo com mais suavidade e apreciar, pois aquilo é, simplesmente, e não precisa ser mais do que isso. Por algum motivo fui me tornando mais amarga e irritada, então perdi essa característica que me era tão cara, me senti muito tempo vazia, mas agora consigo ver claramente o que é. Estou conseguindo voltar a ver as coisas com mais carinho, por assim dizer.

Ah, eu acho que tenho uma resposta. Penso que o mundo mesmo está adoecendo, e acabamos indo junto. Só pode ser isso. Imagino que naquela época, também, eu tinha menos preocupações... Por isso me decidi que o que eu tiver vontade de compartilhar, que seja bonito, que me inspire, eu vou fazer. Porque eu controlava muito bem essa atitude e hoje com tantos recursos (canal, blog, Instagram, Twitter...) eu posso mostrar as coisas belas que consigo enxergar no meu cotidiano trivial.

E parece que não tem muito a ver com o que eu estava falando antes, porém sim, tudo se conecta nisso. Sabendo que eu estou levando os dias na calmaria, na leveza, me sinto mais inspirada para escrever, fotografar, ler, gravar. Então é algo que só pode favorecer o que gosto de produzir e compartilhar. De maneira gradual, como disse, sem amarras, só com a vontade de mostrar que o mundo pode ser bonito, quando nossos olhos o veem dessa maneira. Embora não queira dizer que se precise fechar os olhos para as coisas mais sérias e até tristes, mas porque só disso que vivemos todo dia? Se estou adoecendo por conta da ansiedade ou depressão, não é me afundando na tristeza que eu vou melhorar, certo?

Veja as belezas de vez em quando, um dia de cada vez, e assim, quem sabe a alma volta a sua natureza original.

J.

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