julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com coisas que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

Me dando o devido crédito

Começo dizendo que gostaria que esse texto fosse escrito para a newsletter, entretanto estou escrevendo a próxima edição e não sei se caberia acrescentar mais esse assunto. Além do mais, é daqueles textos que já escrevo aqui há muitos anos. Daqueles nos quais desabafo de tudo um pouco, principalmente como me sinto em relação a mim mesma na vida, em momentos de crise etc. 

Não que tenha parado de escrever esse tipo de post, mas como não tenho atualizado tanto o blog, acaba que direciono meu conteúdo com o que acho mais simples (para não dizer fácil) de escrever.

Bom, indo direto ao ponto: decidi, de uma vez por todas, que sou escritora, sim, e vou continuar escrevendo (do meu jeito) se isso é o que me faz realmente feliz.

Para uma pessoa que não leu nenhum texto meu pode parecer que eu já era confiante com isso; se não parecia mesmo, então acho que dá para entender ter demorado tanto em admitir isso para mim mesma, mesmo depois de tanto tempo e tantos textos falando sobre escrita, dificuldade em escrever, bloqueios criativos e tantos assuntos correlacionados.

É aquela velha conversa: estar na internet não é fácil, não é muito confortável e me dá muitas ansiedades, porém como estou aqui há uns bons anos, é ainda mais difícil se desapegar dela. Hoje muitos de nós não conseguimos nos ver fora daqui, não é? Pelo menos penso que é quase impossível fazer o que faço – escrever e publicar – e não estar aqui tentando me sentir um pouquinho importante em divulgar meu trabalho. Sim, agora consigo admitir, escrever é meu ofício. Pode ser que aos olhos de muitos não seja algo importante; que eu só pareça uma “escritora” completamente desconhecida que se acha mais importante do que é. Não é isso. É só que devo acreditar em mim mesma, se não tivesse que fosse um pouquinho dessa confiança aí sim eu me sentiria mal de verdade. Se não fizesse isso há tanto tempo e com tanta paixão, não me sentiria como me sinto, provavelmente.


Amo escrever, embora eu saiba que escrever seja bem difícil – e quando digo difícil é no efeito de comunicar exatamente o que você quer dizer. Isso é complicado demais; é cansativo tentar replicar os sentimentos em palavras, pois o que sentimos é mais complexo do que aprender a escrever bem, no meu ponto de vista. É fato que se eu não escrever não sei quem sou. Eu não me sinto eu mesma se não me permitir escrever.

Quando era mais nova não tinha receio algum de escrever. Me dedicava a fazer o meu melhor, porém não era exigente ao ponto de achar meus escritos ruins e querer apagar tudo logo depois de terminar de escrevê-los, como acontece muitas vezes hoje em dia. Mas eu era inocente. Quando você se dá conta de que nesse mundo precisa ter confiança em si mesma e que parte das pessoas podem ser medíocres que ainda assim vão ser elogiadas pelo que fazem, começa a ter mais medo de não ser boa o suficiente.

Então por que não continuar escrevendo? Por que o medo de se dizer escritora? Existe alguma regra que diz que não posso dizer que sou escritora? Ou o simples fato de escrever e publicar (na internet) há mais de 15 anos não me dá, pelo menos, esse aval?

Não estou pedindo demais, né? Só quero poder dizer, “oi, meu nome é Julie, sou escritora”. Não estou exigindo sucesso (o que seria isso, afinal?), não estou exigindo ser famosa ou muito conhecida nem conhecida. Só quero ser escritora. Não deveria temer tanto essa palavrinha se é o que sinto que sou. Ela não é uma palavra tão mística e lendária que não pode ser usada abertamente. Por isso mesmo já não vou ter medo de usá-la para me descrever.

– O que você faz?
– Sou escritora!

▬▬

Patti Smith disse uma vez “eu fiz discos que parece que ninguém escutou. Você escreve livros de poesias que talvez 50 pessoas leiam. E continua a fazer o seu trabalho porque você tem que fazer, porque é sua vocação.”

Ser reconhecido é maravilhoso, mas não é por esse motivo que continuo escrevendo e fazendo meu trabalho. É porque preciso da escrita, mais do que imaginava que precisava.

Resgato um post de dois anos atrás da Maki De Mingo em que ela cita do livro Como Escrever Bem (que já está na minha lista há um bom tempo) o que o autor diz mais ou menos no início: 
Você escreve, primeiramente, para agradar a si mesmo e, se consegue seguir adiante com satisfação, também agradará aos leitores que forem dignos daquilo que você faz.
Me lembrou daquilo que eu sempre acreditei. Preciso ser fiel a mim mesma e confiar no que quero e como preciso fazer, depois vem o resultado. O resultado pode vir como um grande sucesso ou só um elogio de vez em quando, mas o trabalho precisa ser feito da maneira que te deixa confortável e contente, de que adianta escrever o que não se gosta? Pode ser a minha maior satisfação, e isso é um ótimo resultado.


Se reafirmar é uma das maiores conquistas que temos. Pensando bem, é a primeira conquista que podemos ter. Saber o que se quer e quem se é, é se erguer e falar ao mundo que a pessoa que mais nos conhece somos nós mesmas

Essa afirmação que estou fazendo para mim pode ser vista como uma palavra amiga para quem também tem seus medos de achar-se no mundo. O que você quer ser? O que você quer? É bom sempre fazermos essas perguntas para reflexão de como estamos nos sentindo. Acho importante que pensemos sempre o que somos e o que queremos para nós individualmente. Não, não vai fazer parecer que somos egoístas.

É uma mudança que parece pequenininha, mas faz uma diferença enorme na confiança que espero sempre que olho no espelho.

Nossa, estou sentindo uma sensação tão libertadora, de uma amarra que tive praticamente a vida inteira. De prender a respiração cada vez que me perguntavam o que eu fazia e eu não sabia responder. Agora sei o que tenho a oferecer, principalmente para mim mesma, que é o mais importante, convenhamos. Um alívio enorme e muito significativo. 

J.

Comentários

  1. Que texto incrível, Julie! Ler sobre sua jornada de se afirmar como escritora foi super inspirador. É bom ver alguém compartilhando as lutas e os triunfos reais da vida de escritor.

    Sua paixão pela escrita é evidente, e é legal ver você abraçando isso de vez. A honestidade sobre os altos e baixos da confiança em si mesma na internet é algo que muitos de nós certamente sentem.

    Gostei da citação da Patti Smith e como você destaca a importância de escrever para si mesma em primeiro lugar. É isso aí, a autenticidade é tudo!

    E parabéns por se libertar e afirmar com confiança que você é uma escritora. Deve ser uma sensação incrível se desvencilhar de amarras antigas e abraçar sua verdadeira identidade. Continue compartilhando essa jornada, pois é algo que ressoa com muitos de nós. Bravo! 👏📝

    Se ainda não oconhece meu blog é o Depois dos 28 estou acompanhando seu blog, sei que não é uma troca mas ficarei muito feliz se aparecer por lá, um grande abraço. 🫶🏻

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    1. Ah, Celli, eu me emocionei com seu comentário, hehe.
      Obrigada por entender, sentir minhas palavras e valoriza-las. Isso significa muito pra mim. <3
      Pode contar que vou continuar por aqui por um bom tempo ;)
      Vou lá olhar seu blog.

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  2. Acho que só te fazer feliz já pode ser considerado um (grande) sucesso, feliz que tenha se reconhecido como escritora, teu relato foi inspirador ♥

    Eu tenho um pouco disso com a arte, eu sinto que meu sonho é me descrever como artista. Mas não consigo, simplesmente não consigo, sinto que não sou boa o suficiente, ou não tenho experiência o suficiente pra me denominar assim. Mas acho que é um caminho né? Quem sabe um dia rs

    Beijo ♥

    https://meumuseuparticular.blogspot.com/

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    1. Eu demorei muito pra me sentir escritora mesmo tendo anos de escrita e quase 15 anos de blog. Acho que ser artista é complicado por isso, a gente demora muito pra se dar conta que podemos ser talvez por acharmos que precisamos de aprovação de alguém ou de alguma coisa, mas te digo que não se pode permitir ser podada por julgamentos, nem dos outros nem de nós mesmos.
      Você vai ter seu entendimento sobre ser artista, só ganhar confiança ;)
      Obrigada pelo comentário, Bruna!

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