julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com o que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

Sobre estar na internet

Então que andei tendo muitos, mas muitos pensamentos sobre uma série de coisas, mas o principal deles é sobre “estar na internet”. Acho que depois de um tempo não tem como não pensar nisso na atual situação das redes, mesmo dos espaços em que as pessoas fazem seu conteúdo e compartilham boa parte da sua vida.

Eu quero ser realmente honesta aqui (não que não tenha sido em outros milhões de textos que já escrevi meus pensamentos, longe disso, mas não quero nada enviesado de forma nenhuma, também vou acabar não sendo sucinta…), então não vou ficar segurando palavras para não ficar desconfortável ou para deixar o texto bonitinho. Quero expressar o que tenho sentido ultimamente e o que realmente se passa na minha cabeça.

Sei que não sou uma pessoa relevante na internet, como pessoa que tem o que dizer e opiniões que dou sobre as coisas, enfim, não sou “famosinha”, nem perto disso. O que faço aqui há 13 anos (partindo do tempo que tenho esse blog, e não o que já tive e o que já fiz no Youtube, por exemplo) é simplesmente escrever como forma de compartilhar das coisas que aprecio nos meus dias comuns – que são sempre assim, não tem nada demais no que faço nem no que vivo. Imagino que como eu mesma gosto de ler e assistir assuntos desse tipo, penso que muitas pessoas curtem o que eu faço por aqui. E como não sou conhecida, acredito que o ambiente fique até mais legal, pois posso dar atenção para todos que conversam comigo, já que não são muitos e tudo o que faço é com intenção de comunicação com pessoas que também gostam das coisas que eu gosto e que querem conversar um pouco mais sobre elas.

Pois bem, tenho sentido que a internet/redes sociais/veículos de mídia como blogs, Substack, Youtube, Tiktok, Instagram etc. tem ficado muito sobrecarregados de assuntos e tudo é tratado como ou muito importante ou fútil. Parece que não há um meio termo das coisas. O que me incomoda muito, pois quase sempre penso nos assuntos por várias nuances diferentes e não só 8 ou 80, esquerda ou direita, preto ou branco. Para mim existem muitas gamas e uma variedade de estilos de como abordar os assuntos. Então não gosto de pensar em nada como binário e sim múltiplo.

O que tenho visto é que ninguém se interessa mais por nada genuinamente. Os filmes, as músicas, os livros passam muito rápido, viram hype e em seguida são esquecidos para darem espaço para outra obra, outro artista. Ninguém presta mais atenção e estuda aquilo que está ali. Com exceção de pouquíssimas pessoas (excluindo influencers porque não acompanho ninguém já que pra mim influencer é só um tipo diferente de chamar o coach que resolveu ir pra internet, e eu odeio coaches), acho que nada marca, nada permanece, nada é tão importante assim mesmo.

Cada vez mais, quando penso em escrever um texto ou compartilhar algo em redes sociais (nem vou citar Xuíter porque eu ando bem de saco cheio daquilo lá), me preocupo menos com quantas pessoas vão ver/ler aquilo que resolvi mostrar. O meu negócio é registro para o meu eu futuro ver o que andei fazendo nessa época que coloquei aquilo por ali. Resolveria só tirar as fotos, escrever os textos e deixar tudo offline, certo? Esse é um pensamento muito válido. Seria mais fácil. Só que quando eu comecei a compartilhar meus gostos e pensamentos era tudo muito mais devagar e leve. As pessoas vinham falar comigo sobre o que eu tinha mostrado e achavam legal ou pegavam dicas – sendo que nunca foi minha intenção ser conselheira nem dar dica de nada, só mostrar porque aquela arte, livro, música, filme me deixa contente, ou me lembra de algo triste, me faz sentir.

Em algum momento as coisas começaram a ficar estranhas. Um cansaço geral tomou conta e o que as pessoas querem é que tudo seja mais rápido e mais superficial. As pessoas dizem querer o simples, mas não é o que elas realmente querem. Querem menos, e o simples nem sempre é menos, é só um jeito claro, descomplicado, mas não menos profundo e importante de se entender e apreciar. Não querem mais pensar nem se dar ao trabalho de pesquisar por interesse, só querem que tudo caia no seus colos, mastigado, para não terem que fazer esforço ao pensar.

Eu não gosto de fazer coisas sem profundidade, sem sentir aquilo, e por isso quando resolvo escrever sobre um livro, por exemplo, demoro muito. Pois preciso pensar em como irei abordar o assunto sem deixar o importante para trás, preciso que tenha significado. Para me expor na internet sem sentir nada não vale de coisa alguma.

Hoje não se quer nada disso, e o que eu penso é se vale a pena trazer para o meio online todos esses pensamentos que ninguém se importa em pelo menos dar uma olhada, pois ninguém mais quer nada longo (esse texto foi com deus também né, pois o tamanho que tá ficando…) e explicado com profundidade.

Minha dúvida é se continuo compartilhando minhas coisinhas no blog que seja, ou fico com meus textos, minhas fotos, minhas lembranças e memórias para mim, pois registrar em cadernos ou mesmo deixar como arquivos no computador não é desperdício. Me tornar uma pessoa que não ficará mais online todos os dias, e atualizar para mim e só para mim, apenas.

Tenho me sentido inadequada e sobrando em lugares que não tem mais espaço para quem só quer compartilhar por simplesmente achar bonito e gosta daquilo, entende?

Unsplash

Eu sinto que a internet, e o fato de estar e fazer muita coisa online, me fizeram mais influenciável e suscetível a querer o que os outros querem e gostam, então eu tento me afastar o máximo que consigo desses pensamentos de que preciso consumir aquilo que dizem as pessoas na internet. Acho que algumas exceções – como comentei antes – são pessoas legais que indicam com sinceridade, mas o que quase tudo virou um antro de consumismo desenfreado de informação e produtos sem significados, vazios e robóticos que fazem tudo igual. Foi o tempo em que as pessoas gostavam das coisas genuinamente. E é por esse lado que eu penso em desaparecer aos poucos da internet e ficar só como uma pessoa que mostra uma ou outra coisa aqui e ali, mas é mais direcionada para amigos que não tenho tempo de conversar pessoalmente, que vejo pouco. Aí aquilo que mostro e compartilho é uma forma de manter contato com eles (que são pouquíssimos, dá pra contar nas duas mãos).

Ao mesmo tempo tenho vontade de continuar mantendo o blog e voltar a fazer vídeos no Youtube, só que talvez eu devesse mesmo pensar na abordagem que sempre foi meu mote: compartilhando isso pelo simples fato de que esses meus espaços são como um diário virtual em que registro para manter minhas memórias, para que um dia a eu do futuro possa olhar para trás e achar legal o que eu fazia quando mais jovem, para manter algumas coisas vivas em lembranças. Nada mais que isso. Se as pessoas comentam, conversam comigo é porque fui boa o bastante para que elas tirem um tempo para estarem ali prestando atenção em mim.

Para isso, pensei em continuar com o blog e –  eventualmente, se voltar ao Youtube – o canal. Extinguir a newsletter (infelizmente, sei que algumas pessoas acham legal, mas não dá pra manter tudo); no Instagram só ser um álbum de fotos mesmo (não sei pra quê escrever textão lá se existe blog pra isso, então eu só vou tirar as fotos, como fazia nos idos de 2013). Outras redes existem para fins específicos como o Skoob para registro das minhas leituras e o Spotify que pago para ouvir música. Possuo outras (tipo o Pinterest e o Letterboxd), mas nada relevante que preciso ter seguidores. Sei que as pessoas adoram uma rede social, mas eu já acho que tenho demais. Nunca irei para o Tiktok, nem migrarei para o Bluesky, se algo não funciona direito prefiro me desfazer do que inventar outra coisa (nem devia ter criado a newsletter pra começo de conversa) para me estressar.

Pensando nisso tudo, de qualquer forma, não sei se serei tão assídua nas postagens, provavelmente não. Não é só eliminar o excesso, mas a frequência com que passo online que me incomoda também. Por tudo isso, preciso me estabelecer limites e usar a internet para interesses mais pessoais (pesquisa e estudos que quero fazer). Então quando tiver vontade de escrever um postizinho vou lá e faço, sem pressa, sem constância (já que sou inconstante mesmo, e não tenho que dar explicações sobre isso), como tem sido há um tempo, desde uns anos passados.

Acho que isso vai  me ajudar a ser menos expositiva também. Às vezes acho que comento coisas que não tem um motivo. Entendo que é interessante mostrar os processos, o “estar fazendo” e não só o que está pronto, mas tem hora que exagero e comento inutilidades só para ter o que falar, no entanto é melhor deixar para um texto significativo e trabalhado, não um de qualquer jeito. Ou ficar quieta que se ganha mais.

A verdade é que quero retomar como eram as coisas lá atrás, quando se escrevia naturalmente. Até porque o meu blog sempre foi como um diário pessoal e não um site de informações. Desafiando o que chamam de algoritmo, do que eu disse antes: não penso na quantidade, em números de seguidores, quantos leem ou assistem, e sim dou valor a quem tirar um tempo para conversar comigo. Pois assim, penso eu, as coisas significam mais, ficam mais suaves. 


Enfim, esse texto está até mais longo do que pensei que ficaria, porém penso que consegui colocar tudo o que estava aqui dentro que precisava sair e explicar o que andei sentindo e das eventuais crises de criatividade. Deve ter dado pra entender, espero.

J.

Comentários

  1. Amiga, você descreveu perfeitamente minha relação com a internet hoje. É um mix de sentimentos confusos, uma vontade absurda de romper com as imposições, mas um cansaço e uma culpa gigantes que acompanham esse sentimento. Não sei se fico na newsletter, no blog, no twitter... Parece que não tem mais lugar para a gente que só quer tentar escrever de um jeito fluido. Eu queria muito não me importar com as tendências, mas sempre que escrevo uma coisa e ninguém lê, fico me sentindo um lixo. Quem diria que é tão complicado encontrar espaços em um lugar infinito?

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    1. Oi, amiga, desculpa responder só agora...

      Sim, exatamente isso "é tão complicado encontrar espaços em um lugar infinito". Mas a gente tem que pensar que tem que fazer isso sem esperar resultado, ou o resultado é a nossa satisfação por ter feito o que queríamos. Sei que é difícil também tentar pensar positivo, mas é assim que eu tenho feito. Tem hora que escrevo, publico pra logo depois me arrepender de ter feito, mas me seguro pra não apagar, porque se saiu um texto é porque precisava ser assim. Agora estou um pouco mais tranquila quanto algumas coisas que estavam me incomodando na época desse post.
      Obrigada por comentar <3

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  2. Olá, Julie! Tudo bem?
    Esse texto me tocou muito, às vezes a gente perde a essência das coisas e acho que vez ou outra um tapa mental de nós mesmos ajuda a retomar o motivo do porque se começou algo. Ter um blog é para ser leve e sendo um blog estilo diário, consequentemente é parte de você também. É incrível pensar em como pode ser o futuro de nossas vidas e manter isso guardado permite manter as memórias quase intactas. Compartilhar esses pensamentos com outras pessoas é muito legal, mas também concordo com você, guardar em off também é justo. Antigamente eu tirava muitas fotos das coisas que eu fazia ou onde eu estava e agora muitas vezes, deixo passar esse momento de clicks pra poder só viver o momento, sinto falta das coisas assim, mais simples
    É verdade que tudo é muito rápido e passageiro na internet, parece que sempre estamos a espera do novo. Parece que ao invés de ter se tornado um arquivamento mais moderno e que dure para sempre, se tornou passageiro e que vai ser esquecido por nós
    A internet apesar de auxiliar na vida, também atrapalha. Eu gasto horas rodando um feed infinito de reels no instagram que trazem dopamina instantânea e fazem com que eu me perca de fazer as coisas que eu gosto e de gastar energia com o que eu realmente preciso focar
    Fico feliz que você esteja retomando o rumo do blog, afinal, ele deve te agradar, é isso que faz valer a pena escrever <3

    Até mais ~
    Florescendo Sonhos ❀

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    1. Olá, Eluryun, tudo bem e contigo? Desculpa a demora em responder...

      Sim, é isso mesmo.
      Acho que a internet é uma ferramenta ótima para nos comunicarmos e acharmos muitas coisas úteis, mas as redes atrapalham tanto quanto ajudam. Acho que é questão de filtrar um pouco mais - e aí cada um vai fazer a seu modo.
      Vale a pena escrever, sim! Ainda insisto pois preciso muito da escrita, sem ela eu não me sinto eu mesma.
      Obrigada pelo comentário <3

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  3. “(...) dou valor a quem tirar um tempo para conversar comigo.” É isso. É esse o motivo pra eu continuar com tanta coisa quando nem tenho mais vontade de fazer isso. Quero conexões, quero conversar, que a conversa de bar com pessoas que também gostam daqueles assuntos.

    De uns tempos pra cá venho sentindo um desânimo gigante tomando conta de mim. Seu texto é um alento por perceber que não estou sozinha, ao mesmo tempo que me apavora por ver mais gente com essa sensação.

    Diminuí muito minha presença online simplesmente por sentir que não tenho mais o que dizer. O blog é meu espaço de conforto, de reflexão, de troca de ideias, de me conectar com os outros, de tratar dos assuntos que amo tratar, mas se não entra nem mesmo um comentário num texto em que levei horas para pensar e escrever, então pra que escrever?

    Eu me sinto como aquela amiga que marcou com a galera no bar, mas que está sozinha na mesa, tentando parecer relaxada, mas que está tensa porque ninguém apareceu, sabe? Me sinto falando pras paredes e isso se espalhou para as redes também. Sinto que o cansaço é geral. Gente que sempre curti e com quem interagia diariamente no Xuíter estão saindo, indo pra outras redes e a sensação de desolação aumenta.

    Ainda não decidi o que vai ser do blog pro ano que vem. Apenas queria agregar gente legal e conversar com elas. 🥀

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    1. É, Capitã, tá bem difícil querer se manter aqui. Mas acho que encontrei a resposta que eu precisava, no fim. Tá lá no texto "Me dando o devido crédito". Acho que eu precisava de um incentivo meu mesmo. Precisava entender algumas coisas. Então escolhi continuar. Insistir na escrita, seja onde for, pois sem ela não me sinto eu.
      Obrigada pelo comentário <3

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  4. Eu sinto a mesma coisa que você. Hoje em dia os assuntos e as coisas são tão descartáveis, sem profundidade... E estamos sobrecarregados, talvez por essa montoeira de informações que não levam a lugar nenhum...

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Tá bem complicado mesmo, mas vou insistir ainda. Pois preciso continuar escrevendo.
      Obrigada pelo comentário, Monique <3

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  5. O blog é uma ferramenta da internet que vai completamente na direção oposta a tudo o que existe hoje em dia, e justamente por isso ele é tão especial e único. Não é todo mundo que tem esse cantinho na internet para se sentir bem e em paz, isso é para poucos. Ainda existem pessoas que sabem admirar a bela arte do texto, dos diários pessoais, e eu me sinto extremamente orgulhosa de fazer parte disso.
    Não é sobre "fama", sobre curtidas e comentários. Se um post meu tiver cem comentários ou zero, ainda assim ele vai continuar sendo especial para mim, e isso é um sentimento libertador, eu acho. Não é todo mundo que vai conseguir dizer o mesmo sobre suas postagens nas outras redes sociais.

    Beijos,
    Livro de Memórias

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    1. Sim, os blogs precisam continuar, justamente por entregarem mais do que é oferecido hoje. Também acredito que há muitas pessoas que sabem dar valor às coisas importantes, Renata. Por isso continuamos, né?
      Obrigada pelo comentário <3

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  6. Eu sempre reclamo da internet, odeio vídeos curtos e legendas de uma linha. Gosto de fotos, mas sinto falta de saber o que está por trás delas. Por isso que amo blogs, amo essa conexão que a gente faz com as pessoas através de escrita, ainda mais essa mais pessoal.

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    1. Sinto isso também, Mi. Blogs são especiais por nos conectar de forma mais intima e bonita do que nas redes sociais.
      Vamos continuar <3

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