julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com coisas que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

Em favor da mediocridade

via Unsplash

Na maioria das vezes as pessoas não entendem o que é mediocridade e repassam isso como um adjetivo que exprime “ser ruim” no que se é ou faz. Talvez pela palavra soar um tanto quanto forte, tenham dado a conotação mais pro negativo. Entretanto, não é isso que ela significa. 

Ser medíocre é ser mediano, modesto, simples. Não ter nada de mais, porém não é ser de menos. Por isso muitas vezes temos dificuldade de admitir que somos medíocres em algumas coisas ou como um todo.

Sempre tive uma grande expectativa de ser alguém importante — mais minha do que dos próximos a mim, diga-se —, mas a verdade é que eu sempre fui mediana. Não fui uma grande aluna, não fui a filha que conseguiu chegar longe; não era ótima em desenhar; não fui produtora de conteúdo destacável. Falando assim parece que lamento muito, e vou confessar que por muito tempo eu lamentei, sim. Queria ter um nome reconhecido, algo que me fizesse minimamente importante etc. Porém hoje eu vejo: só tenho que aceitar que consigo e sei chegar até certo ponto, e está tudo bem.

Essa frase “e tá tudo bem” tem sido dita a torto e a direito, eu sei, mas ela identifica bem certas coisas que nos acontecem e não tem nenhum problema envolvido. Está tudo ok, está tudo certo. Não tem porque se preocupar. É isso.
Então não tem motivo em se pressionar em ser a melhor em tudo. Pode-se simplesmente ser só boa nas coisas que se faz e não ser a melhor num todo, só ser melhor quanto a você mesmo. 

A gente espera muita coisa dos outros e acaba esperando mais ainda de nós mesmos e não é por isso que tenhamos que ser aquilo de melhor que os outros projetam em nós. Isso cansa e estressa. É pior ficar pensando nisso o tempo todo, pois aí sim, não se tem concentração para fazer o que é importante para você. O seu importante pode ser pouco para outros, contudo, no seu eu é grande.

Se você olhar para o céu e observar, verá que o nosso planeta não passa de um micro-cosmo na infinitude do universo. Mas estamos aqui e somos importantes como vida na Terra, embora sejamos todos insignificantes no universo como um todo. Nesse quesito, podemos dizer que somos menos do que medíocres. Não é por isso que deixaremos de existir e de continuar caminhando.

A verdade é que a mediocridade é necessária para um equilíbrio. Não é todo mundo que vai ser extraordinário em algo, também não é todo mundo que vai ser horrível em tudo. Então ser modesto faz parte de uma vida simplesmente comum, que todos podemos ter.
Pode ser que em algum círculo que você assista as pessoas sejam importantes e conhecidas, mas são só círculos à parte. Sabemos que existem diversos outros que as pessoas não procuram ser mais importantes do que outras. Há muitas pessoas que só querem estar ali e pronto, sem ter que chamar atenção pelo seu talento ou habilidade de produzir algo, só querem ser como são: medianas.

Uma coisa que seria realmente necessária é se soubéssemos exatamente o que somos, ser aquilo sem querer se impor ou que imponham em nós algo que a gente não é, não quer ou não pode ser.

Talvez com o tempo (e com muita terapia) vamos nos entendendo e percebendo (os outros ao nosso redor também) a mediocridade como algo comum e assim, quem for uma pessoa medíocre (ou modesta, se preferir) — que faz algumas coisas de um jeito mediano e que está bem assim — possa finalmente baixar expectativas e ficar mais em paz com o que se faz/produz ou com o que se é.

J.

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