Não vim aqui dizer que eu escrevo desde quando eu aprendi a escrever, até porque se eu disser isso estaria contando uma grande mentira. Tampouco fui a primeira a aprender a escrever. Tanta gente mais especial por aí que aprende a escrever — e algumas até a ler — com seus três/quatro anos (Susan Sontag, estou falando com você), no meio delas sou só uma pessoa comum, sem nada de especial, que aprendi com meus cinco/seis anos. Na verdade eu aprendi a ler primeiro. Logo em seguida, aprendi a escrever meu nome e algumas palavras fáceis, para, só então, formar frases. E sempre fui uma das mais lentas a copiar coisas do quadro-negro. Todavia, com uns sete anos, lá estava eu escrevendo minhas próprias histórias e jurando a mim mesma que ia escrever um livro um dia. E ilustrá-lo. Pois, sim, eu adorava desenhar também, mas isso é história para outro post, quem sabe.
A maneira como eu adorava cadernos novos... Não, eu venerava um caderno novinho, com as pautas em branco, pronto para ser rabiscado com canetas coloridas. Era algo que me deixava feliz em ir para a escola, sendo que eu nunca fui fã de ir para a escola. Mas o caderno fazia. Eu só queria colocar a data na primeira linha e começar a encher meu caderno com as anotações e deveres para poder ver minha letra desenhada naquelas linhas. Sempre foi assim, sempre será. Até hoje eu compro infinitos cadernos com esse propósito. Obviamente eu escrevo mais no computador agora. Estou pensando seriamente em focar em journals novamente, assim volto com velhos hábitos; eles são terapias, quando são bons, claro.
Estou contando minha vida de escritora (de gaveta) desde os primórdios, para você saber que não é apenas algo informal que eu e a escrita possuímos. É uma relação. Compreendo que pode não parecer isso às vezes, com todas as dúvidas que me assolam quanto a isso, porém é algo real, pode acreditar. Eu sou uma pessoa que escreve, se tirarem isso de mim, me desfaço. Escrever é algo que faço sem pestanejar, quando tudo vem na cabeça preciso por pra fora, mesmo estando tudo uma bagunça.
Sei que isso acontece com várias pessoas. A escrita é o respiro desse mundo maluco que nos consome. Faz parte de nós. Algo intrínseco, que está lá para nos confortar nos dias que nada parece dar certo, mesmo que nem a escrita. Então escrevemos para nós mesmos e ninguém precisa ler, os meus olhos leem e me acalentam a alma.
Eu acredito na entidade talento. Penso, sim, que há pessoas com talento para escrever, por exemplo, e há as que não possuem. Infelizmente não somos dotados de todos os talentos do mundo ao mesmo tempo. Nem todos somos Leonardo Da Vinci. Entretanto acredito que as pessoas possam ter múltiplos talentos e serem boas em infinidades de combinações. Escrever está entre elas. Você precisa saber escrever e ter a sensibilidade, depois disso é só treinar e treinar; polir e esculpir as ideias - ler ajuda muito também. Foi assim que eu fiz sempre, e foi assim que eu percebi que eu sabia escrever, só precisava aprimorar.
art by OTTOKIM |
Por essa razão eu fico um pouco chateada de ver pessoas tão talentosas deixando seus espaços, seus blogs. Não sei se devo citar nomes, mas há moças que eu lia com vigor, que me inspiravam, que hoje já não possuem mais seus cantinhos. Elas ainda continuam escrevendo, porém é um gosto amargo ver que o lugarzinho delas que tanto admirava se foi. Por bem, eu entendo, mas ainda assim não menos dolorido.
E porque comecei com toda essa história? Bom, eu andei pensando muito em deixar o Mundo de Morfeu de lado. Desistir disso aqui e partir para outras formas, e também plataformas, de me expressar. Assim como com o canal do YouTube — que ainda estou matutando o que farei a respeito — havia muitas dúvidas se o que eu fazia aqui era verdadeiramente por precisar escrever. E fico feliz em constatar que sim. Pois se essas reflexões não tivessem me acometido, poderia ainda estar pensando em me desligar do meu diário virtual, ou já ter feito o que queria ter feito - e me dói só de pensar, mas era o que eu estava dirigida a fazer: apagar o blog. Não necessariamente apagar e não existir mais, mas ninguém ia ver mais a cara dele por esse mundo da internet.
É difícil se desligar das coisas que nos fazem bem, só que nem sempre elas nos completarão a vida inteira. Todavia, como expliquei, esse espaço é algo que necessita estar. Não tem como eu me desfazer dele, já criou raízes, já é uma tatuagem em mim. Posso até ficar sem aparecer, mas me desfazer dele, isso é algo praticamente impossível.
Por isso tantas mudanças seguidas foram necessárias. Como uma casa precisa de reformas a minha vive em constante mudança. Já prometi que não prometerei nada; não sei se ficarei sem reformá-la muito mais vezes. Mas podem ter certeza de que não importa a fachada, essa morada vai estar sempre com seus escritos por aqui, para que eu também possa voltar nela e ver o que eu já produzi, que eu sou boa no que faço, só preciso de mais confiança em mim mesma de tempos em tempos.
Pretendo ter mais coragem de postar outras coisas que escrevo, como os textos de crônicas, contos e até algumas poesias que saem do nada em dias inspirados. Assim eu faço máximo proveito do que eu sempre propus ao bloguinho: escrever sobre o que me inspira, o que me deixa feliz.
E para quem estava lamentando se algo assim acontecesse (e sei que são poucos, pois eu nem cheguei a comentar tão vivamente sobre isso), podem ficar tranquilos, esta casa não será demolida. Ficará intacta, sempre a disposição de quem quiser abrigo. :)
J.
Esse post foi tão bonito, Juli. Não que os outros não sejam também, porém parece que você deu uma extravasada aí e se mostrou um pouco mais. Escreva mais sim, moça. Principalmente por ser algo que te faz bem, não deixe de fazê-lo.
ResponderExcluirObrigada, Mari, fico feliz que tenha gostado do textão 💗
ExcluirÉ, me abri mais aqui. Acho que tô tentando fazer mais isso, já que o meu blog é um diário das coisas que eu gosto, né?
E, pode deixar, vou continuar escrevendo sempre. ^^
Beijins!