Adam Gordon após ganhar uma bolsa de estudos para uma pesquisa, muda-se para Madri como poeta e tradutor. Americano que não fala praticamente nada de espanhol, Gordon se limita a usar haxixe, se auto medicar e mentir sobre seu verdadeiro eu.
Contado em primeira pessoa, achei que o livro tem um tom de diário, pois em muitos momentos Gordon vai narrando sobre suas experiências na cidade espanhola, mostrando suas reações a elas, e isso acontece muitas vezes de um modo frenético e fluido.
O personagem, na minha visão, é um tanto dúbio. Em vários momentos você se convence de que ele sente ser superior aos colegas de pesquisa, e em outros o que dá a entender é que Adam não se acha capaz de fazer seu trabalho de maneira satisfatória.
A convivência com as outras pessoas é difícil para ele. Sendo que ele tem mais contado com um grupo de amigos que conhece durante sua estadia na cidade espanhola.
"Nutria profundo ceticismo a respeito das pessoas que alegavam que um poema ou uma música tinham 'mudado a vida delas', especialmente porque, observando-as antes e depois dessa experiência, não conseguia detectar a menor mudança" (Estação Atocha)
Seu relato sobre a vida em outro país pode ser comparado ao autor, Ben Lerner que deixou um certo tom autobiográfico na obra, pois algumas características do personagem podem se aplicar a ele. A neurose de Adam em estar em um país de língua diferente do seu, reflete o autor quando era mais jovem e mais inconsequente.
O livro também faz referência ao atentado acontecido em 2004, pois o título do livro é o nome da estação que sofreu o ataque.
"[...] que eu fosse um impostor ninguém podia duvidar - quem não era?" (Estação Atocha)
A narrativa em fluxo de consciência pode ser meio confusa às vezes, porém ele é um relato inteligente de um jovem com suas dificuldades em se aceitar como ser, de acreditar em si mesmo; de suas relações conturbadas com os outros, permeados pelo clima da arte e da literatura, tão presente nos parágrafos desse livro. Uma característica da obra é que você "come" as páginas, por ser uma escrita corriqueira e despretensiosa.
Estação Atocha tem uma história que pode não agradar a todos que entram em contato com ela, mas é uma experiência de leitura diferente para quem busca algo inovador e bem escrito.
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