julie azevedo
Since 86. Queer person. leitora & escritora. escuto música, bebo café e me preocupo demais com o que não deveria. Blog com quase 15 anos de história, onde as coisas acontecem devagar. arte: yelena bryksenkova

Os livros que nunca lerei


Para leitores assíduos como somos, pensar que existem tantos, mas tantos livros no mundo; que a cada ano saem listas e mais listas de lançamentos, e que nunca vamos conseguir ler todos os livros que queremos, é praticamente doloroso. Isso, infelizmente, é uma realidade. Sim, mesmo que você leia 100 livros por ano; mesmo que leia 200, dificilmente um dia você acabará com a lista de livros que quer ler.

Por esse motivo eu decidi que irei ler só aqueles livros que eu acho que eu deva ler. Com um enfático EU ACHO, pois sei que nem todo mundo entende que quando não queremos ler algo, simplesmente é pelo fato de que não queremos ler. Ponto. Me irritam pessoas que acham que tudo é preconceito literário (e precisava fazer algum post ou vídeo falando do "outro lado da moeda", não é mesmo?), sendo que você só escolheu não ler porque acha que a vida é curta demais - e ela é - para ler algo que talvez você não goste muito ou nem um pouco. Então só acho que cada um deve ler aquilo que quer. 

Eu, particularmente, escolhi ler livros que me façam pensar e que me desafiem. Estou começando a desistir de livros "mastigados", "dados de graça" para a preguiça, por justamente não querer sentir preguiça de ler; quero que o livro me chame, e sei que isso só vai acontecer se a obra for mais profunda e que exija mais. Maaaas, novamente, EU farei isso por escolha MINHA! Você quer passar a vida lendo (milhões de outras) coisas diferentes? Fique mais do que à vontade, por favor.

Até estou pensando em desistir de algumas releituras. Por mais que eu tenha amado certos livros, é difícil ver que o tempo que irei gastar relendo eu poderia estar lendo uma história nova. Entendo que é muito prazeroso revisitar personagens, lugares e sensações que tivemos quando lemos um livro que amamos, todavia ter aquela dúvida de que o tempo de reler poderia ser para ler, é algo que me perturba um pouco.

Engraçado que pensando nesse ponto, do outro lado (duas consciências, como o anjinho e o diabinho) eu me pego refletindo sobre aquela máxima "Como saber se um livro é realmente bom sem ter lido?". Bom, é um risco que se corre. Porém sempre quando sabemos que temos uma bagagem diversificada de leitura, tem como conhecer a si próprio em questão do próprio gosto literário. Ou seja, se você sabe do que gosta, então a maneira de filtrar as leituras futuras fica relativamente mais fácil. E nem estou dizendo que sou a "velha de guerra" no mundo da leitura, apenas sei que conheço exatamente meus gostos.

Se você pensa em diminuir as leituras que não lhe acrescentarão mais em nada (como tirar da lista de desejados aqueles livros que talvez teria sido melhor ter lido quando mais novo e etc.), pense bem como você é, pois o sentimento de arrependimento é pior do que o de ter lido algo que não lhe agradou. Afinal, algo daquele livro você pode tirar (talvez nem sempre, mas vá lá). É só questão de se avaliar bem como leitor(a). 

Isso não foram dicas/recomendações, é só uma reflexão de como a vida está e do que queremos com nossas leituras. :)

J.

Comentários

  1. Oi, Juli <3
    Tudo bem?

    Gostei das questões que você levantou. Sinceramente, nunca tinha parado para pensar muito no "outro lado da moeda" do preconceito literário e vejo que faz sentido. Acho que quem não se permite ler algo por puro preconceito acaba se fechando para possibilidades. Porém, quando a gente sabe do que a gente gosta e do que a gente não gosta, a opção de não ler algo não é nem por preconceito, né? É mais uma economia de tempo e paciência.

    Atualmente, busco diversificar minhas leituras, mas ainda assim, sempre levo em consideração os meus gostos. Não é porque X e Y estão dizendo que o livro é maravilhoso que eu vou ler só porque foge da minha zona de conforto, entende? Precisa haver um interesse inicial da minha parte. Já fui de levar em consideração os palpites alheios na hora de escolher minhas leituras e, na maioria das vezes, quebrei a cara. Hoje sigo meus ~instintos~ hahaha. Se algo me chama, eu leio; seja de um estilo que eu já conheço e amo ou de algo completamente diferente. Como eu disse, se houver interesse da minha parte, vale a tentativa. Vai que eu me surpreendo, né? O importante é levar em consideração o que EU quero.

    Sobre o que você disse de releituras, te entendo muito. São raras as vezes que leio novamente algum livro e, normalmente, é quando eles me chamam. Sempre olho para a minha estante e penso em ler de novo algo que amei há alguns anos, mas aí, mudo de ideia. Sei lá, na maioria das vezes, sinto que o que o livro tinha a me oferecer já foi aproveitado e prefiro ficar com as memórias, sabe? Assim, só leio de novo aqueles que sei que não aproveitei completamente. E, claro, só faço isso se realmente sentir que vale a pena. A vida é curta, né? hahaha

    Por fim, preciso concordar 100% com a sua afirmação de que cada um deve ler aquilo que quer. Seja a leitura daquelas que fazem a gente repensar a vida, ou aquela só para passar o tempo. A vida já é cheia de obrigações e não precisamos fazer da leitura uma delas (a não ser que a gente esteja na escola e não exista outra opção); assim, ler deve ser um prazer. E, na real, só nós sabemos o tipo de leitura que vai nos fazer felizes. Eu, como você, gosto de buscar livros que me desafiem de alguma forma (seja pelo tamanho, pela escrita, o tema, etc.), mas tem momentos que quero algo mais leve, simples. E tudo bem, sabe? Isso não me faz melhor ou pior que ninguém. O mundo seria tão melhor se as pessoas desencanassem, né? É como a gente tá dizendo: a vida é curta, não vai dar tempo de ler tudo; então, leia o que você acha que vai te fazer bem, seja feliz assim e não julgue o coleguinha que quer ler algo diferente de você, haha.

    Ufa! Escrevi muito! Mas, sério, adorei a reflexão ;)

    Beijos,

    Michas

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  2. Olá ^^
    Acho que ando nessa mesma vibe de leitura. Eu costumava ter uma lista enorme e impossível de "quero ler" no skoob até que botei a mão na consciência e fiz uma limpeza. Mesmo porque eu to longe de ter condições financeiras pra comprar todo livro que quero ler, me limitando a comprar só aqueles que quero demais ou de autores já lidos e favoritados por mim. Além disso, to tentando pegar a prática de ler o primeiro capítulo de um livro antes de decidir seguir com ele. E se eu seguir e perceber que nada ali tá realmente me interessando abandono. Foi assim com a Sombra do Vento. Não ouso dizer que o livro é ruim, não só por não ter terminado, mas também poque não é essa minha opinião das cento e uns constados de páginas que li dele. Sabe quando cê simplesmente não tá interessada? Enfim, acho que, como você disse, é algo bem pessoal e está totalmente ligado ao conhecimento sobre mim mesma como leitora.
    Abraço!
    semfloreio.blogspot.com

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